quarta-feira, 9 de abril de 2014

Literatura Medieval

Como já vimos, a sociedade medieval foi fortemente marcada pelo teocentrismo. O pensamento exclusivamente voltado para a ordem divina caracterizou uma sociedade movida pela fé e pelo temor. O bom religioso deveria ser obediente, não contestando os dogmas da fé cristã. A frase “credo quia absurdum” – “Creio porque é absurdo” – explica o pensamento, já que, como o fato é absurdo, é necessária a crença e, no passo que fosse racional, a compreensão já bastaria.
Dito isso podemos dar início propriamente à literatura.A abordagem de temas religiosos – como a moral cristã e alma humana –, a influência da filosofia grega, textos escritos em latim, livros escritos à mão e a utilização de pergaminhos são as principais características da literatura na Idade Média.




Em Portugal, a primeira manifestação literária recebeu o nome de trovadorismo. De origem provençal, o movimento surgiu no final do século XII, e é de caráter predominantemente poético. A palavra “trovadorismo” vem do francês “trouver”, que significa achar, encontrar. Os textos que surgiram no período foram: • Cantigas; • Novelas de Cavalaria; • Canções de Gesta; • Hagiografias; • Livros de linhagens
Destacaremos as cantigas, onde a música estará sempre presente. As cantigas, composições líricas desse período, receberam esse nome porque eram necessariamente cantadas – juntando música com poesia – e geralmente acompanhadas de instrumentos musicais, como violas, flautas, alaúdes, pandeiros, saltérios e soalhas. Podiam ser líricas – de amor ou de amigo – ou satíricas – de escárnio e maldizer.
De origem provençal, as cantigas de amor tinham um estilo culto, requintado, de maior complexidade, distanciando-se das camadas populares – a falta do uso de refrão é um exemplo dos fatores de segregação. Nessas cantigas, o eu-lírico é exclusivamente masculino e fala sobre a figura feminina idealizada e inacessível – mulher casada, de hierarquia superior ou que não o corresponde amorosamente.

São estabelecidas relações de vassalagem e coita amorosa e o trovador deve respeitar as regras do “fin amour” – “fino amor”. Deve-se tratar a mulher com delicadeza (pretz), ter equilíbrio e cuidado (mesura), manter identidade sobre sigilo (senhal) e não ser indelicado, invasivo e grosseiro (sanha).
Exemplo:

Paio Soares de Taveirós

A Cantiga da Ribeirinha (Guarvaia) é a primeira cantiga que se tem registro. Sua classificação é considerada duvidosa, pois, apesar de predominantemente de amor, apresenta desvios satíricos (mais abaixo). Ao expor a intimidade da mulher, em “quando vos eu vi em saia!” – sem manto, nua – e identifica-la em “filha de don Paai Moniz”, o trovador peca em duas das regras do “fin amour”: sanha e senhal, respectivamente.

Já as cantigas de amigo são de origem peninsular – Portugal e Espanha – e carregam um estilo popular, de linguagem mais acessível, facilitada e de frequente uso de refrão. Nesse tipo de cantiga, o trovador se coloca no lugar de uma mulher e constrói um eu-lírico feminino. Aparecem formas dialogadas – uso de travessão – e a mulher conversa com alguém para reclamar ou pedir informações do amado. Comparada à de amor, a coita passa a ser de ausência ou distância e a mulher deixa de ser inacessível.

Albas, barcarolas, serenas, pastoris, bailadas, romarias e malmariadas são os tipos de cantiga de amigo e as pastoris são as únicas em que o eu-lírico pode ser masculino.

Exemplo:


Afonso Sanches


As cantigas satíricas propõe uma sátira, uma exposição exagerada de vícios, fazendo-se valer por meio do ridículo ou do sarcasmo.

As de escárnio fazem críticas indiretas e não destrutivas, utilizando “palavras encubiertas” – implícitos, ironias e metáforas. O alvo da crítica não é nomeado e esta é recebida de modo cifrado, incerto. Utiliza o ridículo para chegar a um riso pequeno.

Nas cantigas de maldizer, a sátira é direta. O alvo é identificado e até nomeado. Utiliza o sarcasmo com intenção do desprezo e aversão de quem ouve. O vocabulário é ofensivo – uso de palavrões, obscenidades – e muitas delas aparecem sem assinatura.



Exemplo de cantiga satírica:
João Garcia de Guilharde
Toda a produção trovadoresca foi organizada em três cancioneiros – conjunto de cantigas: da Ajuda, da Vaticana e da Biblioteca Nacional. O Cancioneiro da Ajuda contém 310 cantigas e, em sua maioria, de amor. O da Vaticana (Igreja) contêm 1205 cantigas de todos os tipos. Já o da Biblioteca Nacional, contém 16047, também de todos os tipos.
Dos principais trovadores medievais, destacam-se: Paio Soares de Taveirós, Dom Dinis e Dom Duarte.




Não somente em Portugal, como em toda a Europa, a literatura medieval deixou de herança grandes obras, como: La Chanson de Roland (idioma francês antigo), o Digenis Acritas (idioma grego medieval) e o Nibelungenlied (alto alemão médio).


Nathália Gil

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